Medicina Comportamental: modificando nosso comportamento
Um crescente corpo de evidências demonstra como tornar eficaz a intervenção comportamental


O comportamento humano é a principal determinante da saúde. Estão se tornando melhor compreendidos os fatores que influenciam a saúde e correlacionam comportamentos e respostas adaptativas das pessoas às moléstias e doenças. Esse conhecimento está nos levando em direção às intervenções comportamentais focadas no nível individual e entrega de funcionamento, com impacto em ambos. Entretanto, muito ainda está por ser feito.

No Reino Unido a Sociedade de Medicina Comportamental foi fundada a fim de promover pesquisas novas, e, bem fundamentadas intervenções comportamentais.

Um exemplo de intervenções comportamentais funcionando no nível individual é a da preparação psicológica dos pacientes aguardando por cirurgia: informação do procedimento e instruções comportamentais confiáveis reduz o uso de analgésicos e tempo de estada no hospital. Da mesma forma, tratamentos psicológicos baseados nos princípios da terapia comportamental cognitiva, quando comparados com tratamentos alternativos ativos, reduzem a sensação e manifestação de dor crônica.

Intervenções comportamentais podem, também, ser um trunfo na prevenção de moléstia: em um raro projeto comparando intervenções comportamentais acompanhadas passo e passo com a medicação, intensiva promoção de atividade física, e perda de peso reduziu a incidência da diabete bioquímica em um alto grupo de risco em 58%, uma redução maior do que a obtida por meio do uso da metformina.

Levando a pesquisa comportamental para a prática

As intervenções comportamentais também podem melhorar a forma de assistência médica. Por exemplo, medidas organizacionais tais como mudando regras e habilidades mescladas da equipe, ou lembrete e sistemas de deixas (N.do T.: dicas) para clínicos, podem resultar em mensuráveis efeitos no comportamento dos clínicos e uma clinicamente importante redução na pressão sanguínea entre os pacientes hipertensos, de novo com frequentemente maiores do que aqueles obtidos por meio de tentativas farmacológicas.

Estas são as histórias de sucesso, Entretanto, tal evidência favorável é pobremente ou inconsistentemente traduzida para a prática clinica: os pacientes não são rotineiramente preparados para procedimentos clínicos; aqueles que se apresentam com dores crônicas são mais prováveis serem conduzidos por meio de medicação do que por intervenções comportamentais; e prescrição de medicamentos são mais prováveis que intervenções comportamentais sistemáticas a ser utilizadas no tratamento de diabetes e hipertensão.

Tão importante quanto às histórias de sucesso estão às histórias de “trabalho em andamento”. Assim, nas áreas de adesão à medicação, revisões sistemáticas dos muitos estudos disponíveis revelam pouco progresso no desenvolvimento de intervenções que melhorem as taxas de adesão, pelo menos dentro de pesquisas aleatoriamente efetuadas, A maioria das intervenções para modificar o comportamento profissional tais como uma auditoria clinica (N.do T: no sentido de um balanço) ou abordagem educacional tem modestos efeitos os quais variam imprevisivelmente com o contexto. Uma principal razão para isso pode ser a de que as intervenções são atribuídas sem nenhuma base na teoria ou evidência do porquê [isso] possa funcionar.

O impacto potencial das intervenções comportamentais e tratamentos levantam a questão do motivo pelo qual elas não retratam mais fortemente na pesquisa, na política, e na prática. Uma das razões pode ser a falta de pesquisadores hábeis e clínicos trabalhando para desenvolver, avaliar e entregar essas intervenções, refletindo a falência do investimento. Revisões sistemáticas repetidamente põem em foco o problema de intervenções desenvolvidas e descritas pobremente, fracos projetos de pesquisa, falta de pensamento com relação ao contexto e população alvo, e, imprecisas medidas de comportamento.

A cultura da pratica da medicina em si mesma pode ser também antipática. Os médicos permanecem como a mais poderosa voz dentro da medicina. Eles são predominantemente treinados para o uso de medicamentos e cirurgia como controle da doença, ao em vez de intervenções comportamentais.

Ademais, pressões sobre os doutores a partir das indústrias farmacêuticas e tecnológicas, com o objetivo de venderem seus produtos são fortes. Pesquisas patrocinadas por esses grupos ultrapassam aquelas de governos e instituições de caridade por todo o mundo. Em 2003 a indústria farmacêutica despendeu 3.550mi de libras (5.165mi de euros) em pesquisas no Reino Unido, mais que duas vezes a totalidade da quantia gasta no Conselho de Pesquisa Médica, Departamento de Saúde, e principais instituições de caridade (dados da Associação da Indústria Farmacêutica, comunicação pessoal). A influencia da indústria farmacêutica e importante uma vez que, a despeito da regulamentação, existe evidência de que seus fundos financeiros podem levar os resultados em favorecimento aos seus produtos.

O maior desequilíbrio entre investimentos no desenvolvimento farmacêutico e a compreensão e apoio de comportamentos relacionados com saúde deve ser motivo de preocupação. Enquanto a indústria dirige uma importante agenda de pesquisas ela também influencia fortemente o subseqüente fornecimento de cuidados com a saúde. Entretanto as prioridades globais de saúde de prevenção e cuidado de doença crônica serão claramente não alcançadas somente por meio de receitas de remédios.

Mudando o comportamento de pesquisadores e praticantes

O que é necessário para aumentar as chances que as intervenções comportamentais efetivas sejam desenvolvidas e incorporadas ao cuidado com a saúde? É essencial o investimento em mais e melhor qualidade nas pesquisas, envolvendo a quebra de fronteiras para colaborações interdisciplinares.

Demasiadamente a pesquisa comportamental é baseada não só sobre teorias válidas de comportamento humano, nem tão pouco na existência de evidência empírica. Intervenções que são baseadas em teoria parecem ser mais eficazes em apoiar mudança de comportamento do que aquelas que não o são, e podem ser mais efetivamente generalizadas e disseminadas. O novo campo proposto da medicina comportamental dentro da Database Cochrane (N.do T.: Dados de Cochrane) propõem itens adicionais CONSORT (N.do T.: (?)) a serem comunicados em pesquisas de intervenções comportamentais, detalhando seu conteúdo e contexto para possibilitar combinação de recursos para um fim comum de estudos homogêneos.

A medicina comportamental, conforme conceptualização nos Estados Unidos reúne as muitas diferentes disciplinas e profissões que tem por objetivo melhorar a saúde e resulta o cuidado com a saúde por meio de mudança comportamental. O campo abrange psicologia, saúde pública, geografia, sociologia, economia da saúde arquitetura, epidemiologia, psicofisiologia, medicina esportiva, e ciências de movimento humano, bem como a medicina clinica. A nova Sociedade de Medicina Comportamental do Reino Unido (http://www.uksbm.org.uk), é uma das 21 associações nacionais filiadas a InternationaL Society of Behavioural Medicine (Sociedade Internacional de Medicina Comportamental), uma organização direcionada a obtenção de uma melhor compreensão dos caminhos entre biológico, psicológico, social e fatores culturais que influenciam a saúde como base para desenvolvimento de intervenções que melhoram resultados de saúde.

O progresso para compreender e mudar o comportamento para melhorar a saúde é modesto, mas verdadeiro. Lucros potenciais a partir de mais ampla aplicação de intervenções verdadeiras são extensos e incluíram custos reduzidos para os sistemas de saúde e aumentada autonomia e saúde para indivíduos. Precisamos desafiar atitudes ambivalentes em direção à medicina comportamental entre aqueles que desenvolvem a ciência e a política da saúde.

Theresa Marthau professora de psicologia da saúde (theresa.marteau@kcl.ac.uk), publicado em 25/02/2006.

King’s College London, Health Psycology Section,London SEl 9RT

Contatos: conceitoacao@marcosmaximino.psc.br
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